A nossa sociedade moderna desenvolveu ainda uma outra coisa que nunca existira antes. Ela produz não só bens mas também necessidades. O que quero dizer com isso? As pessoas sempre tiveram necessidades. Sempre tiveram que comer e beber. Sempre quiseram viver em lares atraentes, e assim por diante. Mas se olharmos hoje à nossa volta, notaremos a importância crescente que a publicidade e a embalagem têm adquirido. É raro que os desejos ainda nasçam no íntimo das pessoas; os desejos são despertados e cultivados desde fora. Mesmo alguém que desfruta de abastança sentir-se-á pobre ao se defrontar com a pletora de artigos que os publicitários querem que ele queira. Não há dúvida alguma de que a indústria consegue criar necessidades que logo se prepara para satisfazer, que terá, na verdade, de satisfazer se pretende manter-se viva no atual sistema, pois em tal sistema a produção de um lucro é o teste de viabilidade. O nosso presente sistema econômico baseia-se na máxima produção e no máximo consumo. A economia do século XIX ainda se baseava na ideia de maximização de poupanças. Os nossos avós consideravam um vício comprar alguma coisa que não tivessem dinheiro para pagar. Hoje, isso converteu-se numa virtude. E, inversamente, quem não tiver essas necessidades artificiais, quem não comprar a crédito, quem só compra aquilo de que verdadeiramente necessita, toca as raias da suspeição política; é um sujeito esquisito, talvez um subversivo. As pessoas que não têm aparelho de televisão são apontadas a dedo. É óbvio que não se trata de pessoas normais. Onde é que tudo isso nos levará? Posso dizer-lhes. O recrudescimento ilimitado do consumo produz um tipo de pessoa devotada a um ideal, na verdade, ao que é quase uma nova religião, a religião do País das Delícias. Se perguntarmos a nós próprios como o homem moderno imagina o paraíso, estamos provavelmente certos em dizer que, ao invés dos maometanos, ele não espera encontrar-se rodeado de belas mulheres (de qualquer modo, uma visão decididamente masculina do paraíso). Sua visão é a de uma gigantesca loja de departamentos onde tudo é acessível e onde ele terá sempre dinheiro bastante para comprar não só tudo o que quer mas também um pouco mais do que o seu vizinho. Isso é parte da síndrome. Seu senso de valor pessoal baseia-se em quanto ele possui. E se quiser ser o melhor tem que ter o máximo.
A questão sobre onde nos determos soçobra nos quase frenéticos ciclos de produção e consumo e embora um substancial número de pessoas nesse sistema econômico tenha muito mais do que pode usar, elas ainda se sentem pobres porque não podem acompanhar o ritmo da produção ou da massa de bens produzidos. Essa situação promove a passividade, bem como a inveja e a cobiça e, em última instância, um sentimento de debilidade íntima, de impotência, de inferioridade. O senso de si mesmo de uma pessoa passa a basear-se exclusivamente no que ela tem, não no que ela é.
Autor: Erich Fromm
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